24 de jun. de 2010

A OUTRA

_ Oi!
_ Ooi!
_ Quanto tempo
_ Séculos... O que você tem feito da vida? Tá ainda casado?
Foi casual de fato, foi. Inesperado aquele encontro.
Fingi normalidade, mas por dentro eu tremia inteira. Estava diante da primeira das minhas grandes paixões adolescente. Nas festinhas que chamávamos “matinês” ele tocava bateria, nunca vou esquecer. Eu ia pro clube só pra vê-lo.
Amor platônico, naquela época. Depois vida que segue. Eu viajei, casei, soube que ele havia feito o mesmo e parecia muito feliz. Eu ouvia falar das inúmeras viagens pelo mundo, onde ele parecia estar em eterna lua-de-mel.
Também, pudera! Ele não se casara com alguém normal. A mulher com quem casou era um ícone de inteligência e beleza. Que por sua vez só havia casado com ricos e poderosos. Ele devia estar no topo.
E eu com o casamento em frangalhos, mas com a vida centrada e concentrada em Miami. Dinheiro? Tive muuuito dinheiro, agora ainda tenho algum, mas perto do que era... sounds ridiculous. Vocês me perdoem, mas às vezes meu português falha.
Depois disso só uma vez,num restaurante da moda, eu estava num grupo grande só de mulher, algumas até amigas da Pilar (que é como se chama a mulher dele). Eles estavam os dois e mais um casal. Me pareceu muito antipática, alheia e nada daquelas belezas tão alardeadas.
Soube, porém, através do meu grupo, que isso era só resultado de um câncer que ela tivera agora. Ah, bom! Ele comigo foi hiper simpático, caloroso até. Estranhei e tive a sensação todo o tempo que havia um pouco de mise en scene para chamar a atenção dela.
Depois disso, anos, muitos anos depois... novo esbarrão, desta vez fatídico. Eu estava num cofee shop, ele também. O homem havia engordado uns 200 quilos. Quem sou eu para falar de gordura?! O meu ponto fraco. Ele me disse que havia acabado de separar, eu já separara há muito. Dinheiro, portanto, para mim, não era nenhum problema... Convidei-o com tudo pago para um cruzeiro pelas Bermudas. Convite feito, convite aceito.
Reparei que ele não me parecia mais tão poderoso ou rico, como eu imaginava. Talvez passando dificuldades, separar é caro. Disse-me ele que ela estava numa clínica do interior de Minas internada para desintoxicação do álcool. Coitada, depois do câncer, isso. Ele estava com ódio, muita raiva dela. Como se ela houvesse decidido se tornar alcoólatra...
Isso ta fazendo três anos. Muita coisa mudou... O nome dele é Felipe, mas a gente o chama Ipi. A honestidade e sinceridade dele são desconcertantes. Ele nunca me escondeu que a mulher da vida dele era Pilar, sempre foi e jamais deixaria de sê-lo. E que casar, depois de 25 anos com Pilar, nunca mais. Nem mesmo com ela.
Era um homem novo, que eu acabava de conhecer e parecia-me muito complicado, nessa relação com ela. De resto, era perfeito, adorável, cavalheiro, carinhoso... Homem como antigamente. E o que me perturbava muito é que volta e meia eu o sentia apaixonado por mim. De pirar! O tempo que passamos no cruzeiro foi uma verdadeira lua-de-mel.
Ninguém poderia dizer que não era paixão o que estávamos vivendo. À exceção de umas duas ou três noites que ele bebeu, tomou um porre, como dizem por aí e chorou, chorou muito de saudades dela. Eu não disse que ele era sincero? Translúcido na verdade.
De lá pra cá Pilar vem se insinuando e ganhando terreno. Do ódio inicial sentido por ele, passou a um amor sempre presente e uma preocupação eterna com ela. Preocupação essa que beirava a doença. Ele sentia, sentia não. Sente uma culpa doentia pelo estado em que ela se encontra.
E qual estado em que ela se encontra? Normal, nada lhe falta (ele não deixaria) e parece também que ela não é de gastos excessivos e leva uma vida quase monástica. Não podendo beber ou fumar poucas chances de divertimento sobram. Ela escreve (e parece que bem) e tem um blog. É esse o universo em que ela transita. E vive doente.
A princípio achei que fosse tudo encenação para preocupá-lo. Mas não. Vi depois que eram seqüelas da doença. E agora? Agora eu entendo tão bem quando o amor rima com dor.
Agora eles estão imersos em dívidas. Pilar e ele, como já disse antes, ele culpado com a situação toda. E meu Deus! Quem diria?! Sobrou para mim. Volta e meia ele vem e eu empresto (quer dizer, dou. Porque jamais verei de novo essa quantia. Mesmo sabendo que o que estou dando beneficiará a ela). Que me importa?
Se me perguntarem se ainda o amo, vou responder: sempre. A nossa transação sexual, a nossa trepada é dos deuses...
Agora estamos vivendo a três. Não, não é verdade. Eles estão juntos mais que nós. Às vezes passamos meses sem nos ver. Mas de qualquer forma ele é um grande amigo no qual confio muito. Mas sou franca e sei perder. Eles estão talvez mais juntos do que nunca.
Sem preconceitos, agora: ele se transformou em meu puto de luxo. Como vai terminar essa história? Não tenho a mínima idéia e, por favor, quem souber me avise. Porque muito me interessa.

2 comentários:

  1. it sounds familiar.....

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  2. Muito comum eesa história de amor a 3.Porém essa foi escrita com mta delicadeza e propriedade.Mariana.

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