31 de mai. de 2010

RECADO DO ZÉ


Rosario,
não dá para parar de ouvir o CD duplo que você me emprestou com músicas recentes de Francis Hime e as que ele fez para as trilhas de vários filmes, incluindo a de Marcados para Viver, o filme que você dirigiu.
O que no encarte que acompanha o CD você chama de uma grande paixão, é uma referência musical imperdível para todos os seus leitores: O Tempo das Palavras... Imagem, lançamento da Biscoito Fino. No primeiro CD (o das Palavras) estão as músicas de Hime com as letras de Jayme Moreno, Geraldo Carneiro, Edu Lobo, Paulo César Pinheiro, Paulinho Moska e Olívia Hime, sua parceira em Maré, que ele canta com Mônica Salmaso. No segundo (...Imagem), Francis reescreve os arranjos das trilhas musicais que fez para o cinema para apresentá-los no seu primeiro disco como pianista solo. É sublime. O piano de Francis traz de volta as imagens de filmes de Bruno Barreto (Dona Flor, A Estrela Sobe), Eduardo Coutinho (O Homem que comprou o mundo), Miguel Faria Jr. (Um Homem Célebre), Alex Viany (A Noiva da Cidade), Eduardo Escorel (Lição de Amor), Luiz Fernando Goulart (Marília e Marina) e o seu Marcados para Viver _ todos representativos de um dos períodos mais importantes do Cinema brasileiro. Ao ouvir o disco, dá vontade de revê-los todos, imediatamente. E aí a pergunta, Rosario: quando é que poderemos assistir em DVD, restauradas, às belas imagens de Tessy Callado, Rose Lacreta e Sérgio Otero em Marcados para Viver?

Tchau,
P pinheiro

AGORA SIM

Quando em mim mergulho, por que tanta dor, tanto sofrimento? Descobri que havia me tornado uma double de mim mesma: a fracassada. Eu que na adolescência fora uma grande promessa intelectual e artística, me revelara um fiasco. Nunca me senti mais frustrada do que o dia em que constatei isso. Mas no instante seguinte como um flash, como um raio faiscante e belo, de forma profunda, verdadeira, senti que se quisesse desse momento em diante, poderia mudar minha história.
Tenho um amigo querido que uma vez durante uma conversa me veio com um pensamento super sensato e objetivo. Ele disse que poderíamos transformar nossas vidas traçando metas: imaginando como gostaríamos de estar daqui a 20 anos. Sonho feito é só trabalharmos para realizá-lo. Parece fácil, porém sabemos não ser assim, mas já é um começo. E a vida é feita de inúmeros começos.
Nasci de novo, desta vez pretendo perene.
Agora que tudo mudou minha alma foi banhada por inúmeras cores, e tons diversos nela moram. Tornei-me elástica para atender às demandas do meu ser. Agora consigo ver o outro e respeitá-lo. Talvez esteja finalmente pronta para o grande amor.

24 de mai. de 2010

RECADO DO ZÉ

E para provar que o Recado do Zé não era lenda, que o Zé tem sim corpo e alma, está aí seu primeiro recado pra nós. Fala Zé:

Rosario, a Versátil está lançando em DVD os filmes de Max Ophuls, diretor alemão (1902-1957), um dos mais importantes estilistas da história do Cinema, autor de Carta de Uma Desconhecida e do mitológico Lola Montez. O que está chegando às locadoras esta semana é Coração Prisioneiro (Caught) realizado nos Estados Unidos em 1948: milionário sádico e manipulador desafia seu analista e casa-se com jovem e bela modelo. Quando a moça engravida, o casamento transforma-se num pesadelo infernal.
O que parece o resumo de um noir banal resulta num filme complexo e emocionante, com atuações extraordinárias de James Mason, Robert Ryan e Barbara Bel Geddes. Não deixe de ver.
Em tempo: para dissipar as sombras de Coração Prisioneiro veja (ou reveja) em seguida Alice no País das Maravilhas, o filme de Walt Disney de 1951. Não é para comparar com a versão de Tim Burton em cartaz nos cinemas. É apenas para sonhar.
Tchau, Ppinheiro

"GUDUNHA"

Há cerca de duas semanas, minha velha nova amiga Maria Carmem me enviou essa crônica sua que na ocasião foi publicada em jornal que agora não me recordo. Ela remete a um possível diálogo entre nós duas.
Devido a um “arranca-rabo” com a tecnologia da Informática não consegui postar o original, mas como é uma crônica antológica e genial fui obrigada pela ansiedade a digitar seu texto.
Infelizmente, algumas passagens do original foram perdidas com a digitalização, por isso em duas partes do texto aparece assim: (...).


A RECÍPROCA VERDADEIRA

São os malefícios da dependência.
É você precisar, recorrer a alguém e imediatamente começar um certo corpo mole, um ouvido de mercador, cobrança, e por aí vai.
Foi depois dessa triste constatação, muito desgostosa da minha vida, que resolvi abandonar meus escritos e sair para tomara um vinho do Porto, com minha amiga Maria do Rosario, e, por uma sugestão do nome desfiar um terço de lamúrias.
Parecia uma conversa de malucas, mas as palavras saíam direto do coração, enchendo a mesa de verdades.
_ Olha! Olha a quantidade de frases que anoto para Marion e Raquel dizerem e elas não se dignam a pronunciar, palavra. O que elas têm de entender é que são apenas personagens e disso jamais passarão.
_ Usa de autoridade.
_ Não adianta. Elas não falam. Vão desvirtuando a história e quando abro o olho, estou sem o fio da meada, só fazendo o que elas querem. Marion, tem a pachorra de se encarapitar ao meu lado, batendo pestana, falando pelos cotovelos, querendo discutir o indiscutível. Se pelo menos entendesse alguma coisa...
Aquilo é de uma ignorância constrangedora. Eu sei. Eu criei.
Rosario sorriu complacente, não querendo me contrariar, enquanto eu prosseguia na minha indignação.
_ No outro dia, meio insegura da história que queria contar, fui cuidadosamente encaminhando a narrativa por determinado rumo, quando ela me vem com sete pedras na mão, dizendo que eu estava “deixando barato, que não era nada daquilo, que ela jamais diria aqueles absurdos, e que eu me aprofundasse mais nos seus sentimentos, que iria descobrir coisas muito encantadoras a seu respeito.” Isso tudo me foi dito, lixando unha, escovando o cabelo, bochechando com Plax e enchendo a cara de Lancôme. Não conseguia me concentrar com essa perua fazendo tantas coisas ao mesmo tempo.
_ E a Rachel? Parece que vocês têm mais afinidades.
_ Temos nada. Aquilo é uma antipática. Sempre de mau-humor e descrente da vida. Difícil trabalhar com ela. No início era tão doce. (...) Agora, se eu bobear, minha mesa de trabalho vira um barraco. Hoje mesmo me saiu com essa: “Você tem medo de mim. Não me completa. Estou me sentindo uma estátua inacabada. É horrível ser uma pessoa pela metade!”
_ Nossa, que difícil convivência!
_ Para você ver o que estou passando. São personagens soltas, sem as amarras de uma obra de princípio, meio e fim, e como tudo na vida precisa de um limite... Estive pensando em dar-lhes o ensino da criação e trancar as duas num romance, desses bem cabeludos, tipo “O colecionador”, só para ver quem escapa no final.
_ É bem capaz delas começarem teu original. Não se arrisque.
_ Rachel fala coisas que eu não entendo. Vem com umas frases que fico horas pesquisando, o que será que ela quis dizer com isso? E ela é dissimulada, fica debochando da minha santa paciência e ignorância. No outro dia me mandou estudar.
_ E você?
_ Fui.
_ Ah!
_ Houve um fato estarrecedor que me assustou muito. Marion, numa dessas nossas eternas discussões, resolveu ter uma crise de ciúmes, dizendo que eu escrevia mais para Rachel do que para ela. Que além disso eu tinha muito mais condescendência e iluminava a personagem da outra com uma luz que não tinha dado a ela. Enfim, surtou. Dei-lhe uma espinafração, me defendi como pude, mas ela estava inabalável. Disse que tinha contato e comparado o número de frases e Raquel ganhava longe. Nessa hora, pulei. “Espera aí”, gritei, “Isso é uma inverdade, porque você não sabe contar. Eu te obturei em matemática.” Ela riu, saiu se rebolando toda, dizendo que eu estava redondamente enganada. “Lembra daquele personagem, Climério Albatroz, professor de matemática?” Disse ela com aquela voz de quem está armando. “Pois é...” Fiquei pasma, achei aquilo uma traição. Eles se encontram escondidos e tramam contra mim.
_ Que cilada!
_ Por isso, querida Rosario, de agora em diante, vou me dedicar à natureza morta, sabe? Uma banana, ali, um abacaxi, aqui, uma maçã acolá... Essas mulheres são muito difíceis, remosas, samurais...
Por que você não casa essas mulheres?
_ E homem agüenta uns estrupícios desses? Elas interferem na minha relação! Se um homem se aproxima de mim, Marion, grita: “Gudunha!” Olha, que termo chulo, gudunha! Raquel, adverte: “Você vai se atrapalhar!” (...)
_ É... Você criou dois monstros.
_ Também não é assim. São doidas, mas são minhas, e personagem é feito filho, só quem fala mal é a gente.
_ É... você tem toda razão, mas o que você não sabe é o que elas andam espalhando a seu respeito...

Maria Carmem Barbosa

18 de mai. de 2010

CANTO DOS AMIGOS, COM CARINHO

O JOGO DE PÔQUER

Fátima e Geraldo estão casados fazem vinte anos. Ela o acusa de indiferente. Ele só tem olhos para ela. Mas, sejamos francos, ele não sabe como a agradar. Prefere ficar em casa nos fins de semana, curtindo sua Billie Holiday.
Aquele sábado, afinal, promete ser divertido para o casal, já que Dario e Jorge, além de agradáveis boêmios, são exímios jogadores de carteado. Dario parece um galã de cinema dos anos trinta. Moreno, bronzeado, esguio, meio displicente no vestir-se, tem lá o seu charme. Não tanto quanto ele supõe, todavia. Jorge é um tipo meio atarracado, mas muito rápido de raciocínio, não perde uma oportunidade de fazer graça. Ambos são colegas de trabalho de Fátima. Geraldo os adora. Fazem-no rir, ao menos, o que não é pouco, tendo em vista sua natural sisudez.
Pano de feltro verde cobrindo a mesa de jantar, os cigarros e copos compõem um inebriante ambiente de cassino à meia-luz. O uísque rola a vontade. Ao fundo, a quietude da Lagoa e do Cristo em suas águas refletida forma um conjunto dissonante com o som daquelas fichas de madreperola envelhecidas, sendo jogadas sobre a mesa.
Os quatro já vão meio alegres. Alfredo, o filho adolescente do casal, só pensa em acumular aquelas lindas fichas e vai formando um desproporcional bolo à sua frente. A certa altura, algumas delas caem ao chão e não há tempo para Fátima e Dario interromperem as carícias mútuas que são trocadas sob a mesa.
Ao voltar a sentar-se percebe o constrangimento de ambos na palidez de seus rostos. Se Geraldo e Jorge claramente nada notam, a reação de Alfredo, entretanto, é a de um perfeito estrategista das jogatinas. Aquilo não era com ele, jogo seguindo e ele ganhando.
Pela hora do jantar termina o carteado e os quatro discutem onde irão prolongar a noite em festa. Opiniões são trocadas, confabulam e acabam saindo para uma noitada que certamente será agradável.
Alfredo ia encontrar-se com amigos, mas desiste. Muito mobilizado e, agora sozinho com seus pensamentos, afinal pode realizar o que vira. As coisas estavam caminhando mal, sem dúvida. O rapaz dirige-se ao bar, um prolongamento da bela estante encravada na parede. Pára diante dela e trata de se decidir. Opta, não sem certo requinte, pela bebida que pode lhe entorpecer de forma mais veloz. Sorve, no gargalo, de uma só vez, mais de meia garrafa de vodka.
Fica parado de pé por uns instantes. Nada sente. Termina então a garrafa e decide ir para o quarto. Seus passos sem prumo, porém, impedem-no de caminhar direito. Um certo estupor o invade, seus olhos hesitam. “Talvez seja melhor assim, sem ver”- ainda pensa.
Na madrugada, ao regressarem, Fátima e Geraldo encontram o filho, camisa e cinto abertos, deitado num tapete próximo ao sofá e coberto de vômito. Notam uma garrafa derrubada a seu lado e percebem que o filho está em coma.
Victor Nuno

POR UMA VIDA NOVA

Ir para uma cidade estrangeira
De preferência onde não se conheça a língua.
Me perder entre desconhecidos que
Amigos se tornarão.
Sentir a angústia do não existir
Existindo, como é bom!
Farei tudo minuciosamente.
Afinal , isto foi por mim.
Sonhando tantas vezes
Ser mais um na multidão
E adquirir uma nova persona
É fantástico, mas o melhor de tudo
É o abandono do eu antigo
Com os amigos, casa e a antiga profissão.
Poder começar do zero
Ser algo que se cria do novo
Do sonho, da alegria, sem olhar pra trás.
Inventar casa nova, nova profissão
Novos amores, por que não?
Se recriar.
Fazer festa no céu dos novos amores
Também, por que não?
Sou uma nova mulher
Que não sabia "que pode tudo" "C L"

17 de mai. de 2010

EM SE TRATANDO DE HOMENS...

BONECA DE CROCHÊ
Um homem e uma mulher estavam casados por mais de 60 anos.
Eles tinham compartilhado tudo um com o outro e conversado sobre tudo.
Não haviam segredos entre eles, com exceção de uma caixa de sapato que a mulher guardava em cima de um armário e tinha avisado ao marido que nunca abrisse aquela caixa e nem perguntasse o que havia nela.
Por todos aqueles anos ele nunca nem pensou sobre o que estaria naquela caixa de sapato.
Um dia a velhinha ficou muito doente e o médico falou que ela não sobreviveria.
Sendo assim, o velhinho tirou a caixa de cima do armário e a levou pra perto da cama da mulher.
Ela concordou que era a hora dele saber o que havia naquela caixa.
Quando ele abriu a tal caixa, viu 2 bonecas de crochê e um pacote de dinheiro que totalizava 95 mil dólares.
Ele perguntou a ela o que aquilo significava, ela explicou;
- Quando nós nos casamos minha avó me disse que o segredo de um casamento feliz é nunca argumentar / brigar por nada. E se alguma vez eu ficasse com raiva de você que eu ficasse quieta e fizesse uma boneca de crochê.
O velhinho ficou tão emocionado que teve que conter as lágrimas enquanto pensava 'Somente 2 bonecas preciosas estavam na caixa. Ela ficou com raiva de mim somente 2 vezes por todos esses anos de vida e amor..'
- Querida!!! - Você me explicou sobre as bonecas, mas e esse dinheiro todo de onde veio?
- Ah!!! - Esse é o dinheiro que eu fiz com a venda das bonecas.

(autor desconhecido)

PRECE DE SEGUIDORAS
Senhor, dai-me sabedoria para entender meu marido, amor para perdoá-lo e paciência para aturá-lo, Senhor, porque se eu pedir força, eu bato nele até matar, eu não sei fazer crochê...
Amém!

(autor desconhecido)

13 de mai. de 2010

ROBERTO RODRIGUES

"A minha arte é sincera. Sou eu mesmo. Não tenho a preocupação de fazer blague, nem me interessam a gramática artística ou a cartilha social. Muita gente acha horrível o que faço. Pode ser. Não fosse a vida a minha inspiradora… Em todo caso sou moço, e é possível que um dia encontre a beleza das coisas feias.Tanto é belo um idílio romanesco como um crime bárbaro."
Roberto Rodrigues

11 de mai. de 2010

NOVIDADE... RECADO DO ZÉ!


É com muita felicidade e satisfação que aviso que ganhamos, digamos assim, um colunista. Um espaço novo que acho ter tudo a ver com esse blog e com seus leitores, já que essa também é uma reivindicação de muitos de vocês.
Comandado pelo competentíssimo e super entendido no assunto José Antônio Pinheiro, o Recado do Zé vem trazer pra gente toda semana dicas e informações culturais sobre os mais diversos meios de cultura: músicas, filmes, exposições artísticas, livros, e muito mais.
Sempre lembrando que esse blog se pretende um lugar de troca de informações, saberes, opiniões e o Recado do Zé é mais um espaço para realizarmos essa troca. Por isso sintam-se todos convidados a interagirem para que assim possamos enriquecer mais e mais esse espaço.

10 de mai. de 2010

ANTES QUE AMANHEÇA!

O e-mail é lacônico como sempre, mas releio: Isa: chego última ponte aérea. Amor. Julio. Coloco-o na cabeceira da cama de forma que, mesmo deitada, ainda possa buscá-lo pelo canto do olho.
Sei da proximidade do perigo, do mergulho no vácuo e minha sensação de abandono sempre que Julio está por perto. Mas anseio por isso. Daqui a pouco, vou revê-lo, e esta casa, agora tão quieta e arrumada, ficará de pernas pro ar. Daqui a pouco, também serei o avesso do que sempre fui. Levantando, posso me olhar pelo espelho estrategicamente colocado na diagonal da cama. Não sou mais criança, mas a imagem que agora vejo me reanima. Talvez seja o chambre de seda, levemente transparente... Sou capaz de tudo nesses momentos em que ele irrompe em minha vida, sempre chegando de algum lugar que desconheço. São momentos que me fazem querer viver mais uma vida para dedicá-la a eles. Lembro-me com vergonha daquela vez em que ele me obrigou a engatinhar, suplicando por seu corpo jovem. Mas depois, me saciou –o gesto certo, os dedos ágeis, acariciando-me por inteira, calmamente, docemente, até que eu, não mais agüentando, cheguei ao orgasmo sem que ele me tivesse possuído. Isso uma, muitas vezes. Precisei suplicar por seu sexo, chorar, implorar por ele. Minha vida, antes tão vazia, tão carente, transformou-se no dia em que o encontrei. Haroldo e eu não nos bastávamos.
Julio é quase um bebê, um querubim, com seus cabelos encaracolados, o sexo intumescido sempre à minha espera. Sou obscena, ele é obsceno; somos absurdamente obscenos, juntos. Paradoxalmente, isso me comove. Não mereço tanto frescor, tanta juventude. Por sua causa adotei estranhos hábitos: uma maquilagem pesada que me faz parecer ainda mais velha, e sapatos de saltos enormes. Na verdade, são fetiches que o excitam, e sou capaz de tudo para isso.
Há horas estou em pé diante do espelho, totalmente absorta, devaneando; corpo aqui, coração onde? Flashes explodem: um retrato de menina com seu olhar aberto para o mundo, emoldurado por grossas tranças; um grupo escolar adolescente, o primeiro amor, o casamento. Imagens que me levam para muito, muito longe. Do espelho, meu lindo querubim me sorri.
Foi assim, inesperadamente –é sempre assim que acontece- numa tarde qualquer, que Julio finalmente me viu. O dia virou noite, noite de São João, de réveillon. Fogos explodiram no céu e dentro de mim. Havia estrelas e uma lua cheia. Depois o sol raiou, imenso, avermelhado. Envelhecer tem seu preço, e pretendo pagá-lo centavo por centavo, sem o menor constrangimento. Basta que Julio faça a sua parte e me dê o que desejo. Continuará me tratando por princesa ou minha rainha? Está na hora de tomar um Saint Raphael, distensionar, pôr uma cinta-liga, meias pretas e aqueles saltos.
A campainha estridente anuncia a chegada de Julio. Pelo olho mágico ele aparece abraçado a uma loura de pinta brabíssima. Fico puta por Julio ser tão canalha. Ménage a trois? É assim que ele quer? Assim será!

CANTO DOS AMIGOS

DEBAIXO DAS COPAS DAS ÁRVORES

O ônibus entrava lentamente na rua da escola e por um motivo ou outro não sentia vontade de sair, ficando olhando através do teto, dos olhos, dos sentidos, para as copas das árvores que desfilavam acalentadas pelo vento suave, tendo um céu verdadeiramente azul por trás. Às vezes quando o céu se fazia cinza e o verde esmeralda virava petróleo, a vontade de permanecer ficava mais forte.
Disto me lembro bem, e passados alguns anos ainda me faz suspirar por aquele tempo. Alguns quilômetros e muitos anos não apagam aquela sensação quando vejo as copas das árvores perto da minha atual casa ou quando passeio me lembrando de carambolas e de planos e sonhos impossíveis .
Parecida com o contraste de odores fortes do mercadinho que já não há mais, onde junto com os salgados também havia o cheiro das frutas e da padaria e eventualmente na esquina próxima uma barraquinha com flores do campo e rosas vermelhas.
Lembro-me do perfume das rosas, que naquele tempo tinham aroma forte, e que eventualmente imaginava enviar com um bilhete para alguém especial.
Os aromas do passado resgatam o frasco, às vezes fechado, das memórias...
Vislumbro copas de árvores vistas por baixo, aguardando o momento de olhá-las por outra perspectiva e destrancar o pequeno frasco perdido nos desvãos do tempo.
Imagino que o vento sobre as copas das árvores seja como uma carícia prometida e esperada e sorrio com simplicidade e paz, além da esperança pelas novas árvores que continuam nascendo!
João Siqueira

6 de mai. de 2010

CANTO DOS AMIGOS

MINHA ALMA, MINHA PALMA

Está tudo calmo
Meu coração adormece nos braços de quem me quer
Meus olhos balançam de um lado para o outro, vagamente
Não há nenhuma ranhura nas minhas palavras
Elas têm escorregado como num parque infantil de praça

Está tudo calmo
Tenho tido sonhos amorosos
Afetos longínquos se aproximam de novo
Lembranças as mais delicadas
alimentação caseira
Horários, salários, armários, em dia

Está tudo calmo
Meus olhos correspondem à vista da minha janela
“Tudo em volta é só beleza céu azul e a mata em flor”...
Há uma vontade enorme e isso é novo
De organizar arquivos
Engraxar sapatos e fazer pequenas costuras

Está tudo calmo
Tenho reagido bem à felicidade
Recebido presentes e retribuído carinhos
saudades só as abençoadas
E um gosto antigo de doce na boca

Está tudo bem
Tudo me vêm às mãos
A luz, o vento, a claridade
Um resto de juventude me assegura um futuro
Ora claro
Ora escuro
Está tudo bem, tudo calmo
Tudo me vem como um salmo, um cântico no ar.

Mas...

Enquanto adormeço na cama
A aflição inflama
À noite adoeço
Delírios e prantos convulsos
Trinco os dentes
Cerro os pulsos,
Febre de muitos graus

Mas não faz mal...

Está tudo bem
Ao redor da minha cama.
Há uma “calma penada”
Que vagueia
Onde adormece a tudo alheia
Minha luz
Minha alma
Minha palma!
Maria Carmem Barbosa

5 de mai. de 2010

VENHA A PARATY E SE HOSPEDE NUM VERDADEIRO PARAÍSO

Paraty é uma cidade lindíssima que além de ser o tão conhecido centro de eventos multiculturais é também um lugar de geografia privilegiadíssima, tendo locais encantadores que nos deixam em contato íntimo com a natureza, difíceis até de descrever, como é o caso dos Chalés Cachoeira da Luz.
Visite Paraty participando dos próximos eventos culturais e ao mesmo tempo relaxe e descanse num maravilhoso paraíso natural.

MAIO
14 a 23 - Festa do Divino Espírito Santo
27 a 30 - Bourbon Festival - Festival de Jazz

JUNHO
03 - Corpus Christi
04 a 06 - Festival do Camarão - Ilha do Araújo
17 a 20 - VI Dança Paraty - Festival Nacional de Dança Competitiva
25 a 30 - Festa de São Pedro e São Paulo - Ilha do Araújo

JULHO
01 a 04 - Festa de São Pedro e São Paulo - Ilha do Araújo
04 - Procissão Marítima de São Pedro
09 a 18 - Festa de Santa Rita
30 e 31 - III Festival de Música de Tarituba

AGOSTO
01 de agosto - III Festival de Música de Tarituba
04 a 08 de agosto - FLIP - VIII Festa Literária Internacional de Paraty
13 e 14 de agosto - V Encontro de Redatores e Publicitários
19 a 22 de agosto - XXVIII Festival da Pinga
21 de agosto - 350 anos do Caminho do Ouro
22 de agosto - IV Encontro de Cultura Caiçara
25 a 29 de agosto - II Encontro de Aquarelistas em Paraty 2010
30 e 31 de agosto - Festa de Nossa Senhora dos Remédios

2 de mai. de 2010

CANTO DOS AMIGOS

RUA DAS ACONTECÊNCIAS

Esta rua existe mesmo. Fica no Recreio dos Bandeirantes, quase em frente ao posto 9. É ali que estaciono quando caminho pela praia do Recreio.
O nome da rua é uma homenagem a um livro de Wilma Guimarães Rosa, mas o nome “acontecências” me capturou desde a primeira vez.
Esta acontecência aconteceu hoje quando fui caminhar.
Um catador de papelão e latas, com seu carrinho de mão, que chamávamos de “burro sem rabo”, era seguido por uma borboleta azul, que não vemos mais com tanta facilidade, mas, pela proximidade com o Parque Chico Mendes, ainda existe no Recreio.
A borboleta pairava e esvoaçava em cima de sua cabeça e, de repente, pousou em cima de um monte de jornais velhos no carrinho.
O homem magro, barbado, vestido com uma camiseta de propaganda política de velhas eleições, com uma bermuda feita de uma calça cortada, descalço, parou o que fazia, e gentilmente pegou a borboleta, levando-a para um canteiro de azaléias de uma casa na esquina.
O homem se afastou, e, depois de um microssegundo, a borboleta alçou novamente o vôo e seguiu o catador de papéis e de sonhos.
Ele tentou afastá-la para as flores novamente, mas ela o perseguiu na sua intenção.
Então o homem sorriu, com seu sorriso triste, rosto sofrido, por vezes humilhado, mas com um brilho no olhar na certeza de que tudo é possível, até ser seguido por uma borboleta azul.
O dia ficou melhor para ele e para mim, que pude acompanhar esta acontecência.
Não me esqueço da surpresa e do sorriso que ele deu quando a borboleta abdicou das flores e acompanhou o “não acompanhável”, e voou para quem entenderia a doação de amor deste vôo solitário, pela dureza da vida que tem.
Esta borboleta transformou o dia deste nosso irmão, de um Brasil catador de papelões velhos.
Que misteriosos desígnios do destino fizeram esta borboleta azul tomar tal atitude?
Lembrei-me que hoje é o dia do trabalho, que, para a maioria de nós, é só mais um feriado. Observei que este homem, à margem do trabalho formal, foi o único que teve como seguidora uma borboleta azul, ele que segue e persegue a felicidade por estes caminhos do mundo.
Então, mesmo parecendo pesado, o seu carrinho de papelão ficou mais leve por causa do vôo de uma borboleta.
Tudo isto aconteceu no pequeno pedaço entre a rua das Acontecências, o vão dos meus sonhos e desejos, e os vôos de uma borboleta azul.

João Siqueira