31 de ago. de 2010

SIM, SENHORA

Me chamo Ana Paula, mas as pessoas me chamam de Aninha ou de Paulinha. Este tratamento diminutivo é irritante. Porque não Ana simplesmente ou Paula? Deixa pra lá ..... Não vou esquentar com isso enquanto escrevo essa tentativa de “Breves Memórias”, onde pretendo contar toda a verdade e não deixar nada escapar. Acho que me fará muito bem .... Bem, até agora não tenho do que me queixar. As coisas vão muito bem. Eu diria que até demais. Dá até para desconfiar. Às vezes é a tempestade que se avizinha, posso até ouvir raios e relâmpagos.
Sinto falta de algo que faça pulsar meu coração .... E isso tem tanto tempo .... Saudades de uma boa paixão. Daquelas que fazem nossos alicerces estremecerem. Talvez seja melhor nem brincar. Mas a vida anda um rame-rame. Vou parar de escrever um pouco e tomar um cafezinho. Pronto, estou de volta.
Tava dizendo que a vida anda um rame-rame. Essa é que é a verdade. Tô ficando velha .... Investirei no figurino para levantar o astral.
Parece até piada, mas não é. Outro dia Silvinha ligou dizendo que está organizando danças de salão para a terceira idade, para a boa idade, disse ela. Até parece, só rindo. Ela contrata uns bailarinos profissionais e chama as amigas e cobra por isso! Um escândalo! Qualquer hora vou dar um pulinho lá só pra rir das “peruas” um pouco. Deve ser muito engraçado.
Outro dia,e eu volto ao meu relato. Ainda acabo pagando pela língua. Acabei indo ao “forró” (só chamando assim) da Silvia e tenho que confessar ter adorado. Deixei o Márcio em casa, ele anda cada vez mais sombrio e taciturno, e lá fui eu. Foi bom para desenferrujar. E tenho que confessar mais, tem uns bailarinos que até dão pro gasto. Na minha idade, aquela que não confesso nem prá mim, nem sob tortura. Aliás já menti tanto sobre ela que juro ter esquecido. Melhor assim .... Mas homens prá mim têm que ser mais maduros. Quem gosta de criança é babador.
Um professor de dança, em particular, que se chama Jorge, apelido “Negão” a boca pequena, eu não repito nem prá mim, que eu achei muito sexy. Ele até daria umas boas sacudidas. Rá, rá, rá ....
A gente tem mesmo que levar a vida de forma mais suave e engraçada. Mas a verdade é que rolou uma “transa” lá em “Deus me livre’’, não posso nem repetir onde, porque não conheço mesmo nada, além túnel.
Sei que há muitos anos não vivia tão tórrida “trepada”. Enlouqueci.
Deixei de escrever uns tempos, agora eu volto. Nesse tempo que fiquei sem escrever, rolou de tudo. Tenho que confessar: me apaixonei pelo Negão (não tem graça nenhuma, é assim que ele é conhecido), mas me apaixonei de financiá-lo em tudo, fazer todas as suas vontades e isso porque? Pelo sexo, eu não posso dizer que o ame, seria mentira. Mas me viciei. E eu que me apaixono por vícios vários. Vícios voláteis, na verdade. Na verdade, eu nunca me fixei em nada. Só homem e dinheiro. Me viciei no cheiro que essa “gente de cor”exala. Vicia, suor, cerveja e ‘’essa cor’, é ..... Me viciei no cheiro da pobreza para encurtar a história. Fiz tudo pelo Negão, prometi mundos e fundos para que ele continuasse comigo. E ele nada. Casou com uma mulata. Mu-la-ta. Fui trocada por isso? E esse meu vício virou doença Comecei a andar de ônibus, pode? E quando sinto forte esse cheiro de pobreza, dou um jeito de ir me chegando, até que “role” alguma coisa. Foi a forma que encontrei para superar o “Negão”.
É. É muito frágil a vida, de quase nada ela é feita, basta um escorregão que mergulhamos no pântano e no inferno de nossas consciências.

30 de ago. de 2010

SALVE FIDEL!

O genial francês A Culpa é do Fidel!, é o primeiro filme dirigido pela corajosa Julie Gavras, que teve a quem puxar já que é filha do grande cineasta Costa-Gravas que sempre lutou a favor das minorias e contra os regimes totalitários. Dona de um humor sutil e irreverente Julie retrata a vida de exilados das ditaduras do Terceiro Mundo em Paris. Tudo sob a ótica de uma burguesa menina francesa que vê sua vida mudar da noite pro dia. Imperdível! E o melhor de tudo: está em todas as locadoras.

23 de ago. de 2010

PRA PENSAR...

“Na primeira vez eles se aproximam e colhem uma flor de nosso jardim e não dizemos nada. Na segunda noite já não se escondem e pisam as flores, matam nosso cão e não dizemos nada. Até que um dia o mais frágil deles entra sozinho em nossa casa, rouba-nos a lua e, conhecendo nosso medo, arranca-nos a voz da garganta e, porque não dissemos nada, já não podemos dizer nada.”
Mayakovsky

17 de ago. de 2010

CANTO DOS AMIGOS

Lembram do conto Sunday, bloody, Sunday que eu postei há umas 2 semanas?! Então, o Canto dos Amigos hoje traz uma daquelas gostosas coincidências inexplicáveis da vida, especificamente na passagem “Conheço uma pessoa que teve decretada morte clínica, quando conseguiram reanimá-la, ela ficou puta da vida, pois nunca se sentira tão bem como quando do outro lado” eu misturo às vivências da personagem, às minhas. E está aí o depoimento da própria, na vida real...

A MORTE ME CAIU BEM

Eu morri. E voltei aqui pra contar: morrer é uma delícia, foi a melhor experiência que já tive nesta vida. Não me lembro do dia em que nasci, nem de como era antes, lá no útero da minha mãe. Acho que, pra mim, não deve ter sido nada fácil nascer. Nasci arrancada a fórceps. Se não estou enganada, acho que ouvi minha mãe contar que vim enrolada no cordão umbilical. Morrer é sonhar. Melhor é o sonho, melhor é a morte. Engraçado que, para quem morre, a palavra morte não combina. Morte é liberdade, é voar por aí, sem dor, sem preocupação, sem excesso nem falta. Longe de ser vazio, é a leveza do pensamento. Nada de conta pra pagar, nem de horário pra acordar. Sem pressa, sem estresse. Vão-se embora as celulites, as rugas, os chatos, as culpas, os julgamentos. Como foi bom morrer, nem sentimentos eu tinha. Nem raiva, nem frustração, nem pressão. Só paz e amor. Na morte, não tinha esse desfibrilador no meu peito, o desgaste na C4 e C5. Nenhuma dor na cervical, nenhuma tensão. Nada de melasmas alastrando-se pelo meu rosto, simplesmente não tenho rosto. Não tenho corpo. To lá em cima, flutuando, viajando sem enfrentar aeroportos ou assentos de avião. Tenho tudo, não devo nada. Não preciso de mais nada, estou em paz. Aquilo sim é a paz. Sou criadora e criatura. Sou pintora, sou atriz. Sou a música, sou a água, sou o gozo, sou meu próprio sonho e não sou nada. A plenitude de não ser nada. Ali, naquele estado, nada importa. Simplesmente sou: nada e ao mesmo tempo todo o universo. E, de repente, sou arrancada de meu sonho.
- Você está bem, você está no hospital. Que sorte a sua!, ouço.
- Mentira, me deixem em paz, eu morri. Eu MORRI!
- Não, você não morreu. Sorria, você está sã e salva, no CTI.
Não pode ser. Acabaram com meu sonho e ainda dizem que dei sorte. Estava saindo de fininho, feliz da vida, trocando essa carcaça antes da perda total, e cá estou de volta, droga! Entubada, perfurada, fibrilada, cateterizada. Nossa, que sorte! E a conta desses “procedimentos” subindo mais do que o preço do barril de petróleo. Sortuda!
-Mentira! Eu morri, sim. Deixem-me sonhar em paz.

Ticiana Azevedo é jornalista e escritora, co-autora com Consuelo Dieguez do livro "Cuidado! Seu principe pode ser uma Cinderela - guia prático para identificar um gay no armário" (BestSeller - 2010)

11 de ago. de 2010

RECADO DO ZÉ

Rosario, minha recomendação é para que você veja um filme (em DVD Lume) que é uma obra prima monstruosa, capaz de provocar as reações mais diversas: entre os críticos alguns adoram outros odeiam e nenhum fica indiferente. É Eva, de Joseph Losey, sobre as relações homem/mulher, tema surrado mas nunca esgotado em inúmeros filmes. Neste ele é o eixo de uma história sobre um escritor casado envolvido com o mundo do cinema e uma prostituta de alto gabarito (30 mil dólares num fim-de-semana... e não se deve falar em dinheiro), um abutre, disfarçado em gênio da putaria, capaz da mais impiedosa destruição. Jeanne Moreau dispensa uma sofisticada lição de representação para o cinema, criando um personagem que ninguém conseguirá esquecer depois que ver o filme, por mais que tente. A fotografia, em preto e branco, de Gianni di Venanzo descobre uma Veneza apodrecida e bela, nunca antes revelada. Coprodução entre Inglaterra, Itália e França de 1962.
Tchau, P pinheiro

10 de ago. de 2010

AQUI SE COME BEM


Casadinho a Cachoeira da Luz

Aproveitei minha ida a FLIP em Paraty para, como sempre, engordar mais um pouquinho. Vários pratos locais são ótimos e de execução muito simples. A cozinha caiçara é quase sempre a base de frutos do mar e a criatividade não chega a ser brilhante. Verdade que há diversos bons restaurantes que se esmeram em “contemporaneizar” tais receitas.
O hit local é o “casadinho”, dois camarões VG recheados de farofa de camarão colados em forma de sexo oral duplo por meio de palitos. Então aqui vai minha receita “inventiva” para esta delicia e à qual dei o nome de minha modesta pousadinha.
Vamos falar em agradar a quatro pessoas:
Lavar oito camarões VG (VG mesmo!!!) apenas na água, deixando casca, cabeça e cauda e deixá-lo descansar um tempo. Espremer meio limão por sobre os bichinhos. Acrescente uma pitada de pimenta do reino.
Pegar uma bela banana da terra e fatiá-la em rodelas. Juntar com um punhado de quantidade equivalente de castanha do caju, num recipiente para serem bem socados com um pilão. Isto vai virar uma espécie de paçoquinha. A ela, juntar boa quantidade de camarões bem miúdos, completamente limpos , descascados e rapidamente cozidos, até pegarem uma cor. Formar com as mãos uma massinha com isto tudo e encher as barrigas dos VG com a mesma.
Formar quatro duplas de camarões VG com as barrigas devidamente cheias fazendo um belo 69, prendendo-os bem com palitos, para não se soltarem (quem sabe em busca de outros parceiros, se vivos estivessem).
Lambuzar ligeiramente cada dupla com farinha de trigo e, em óleo novo e fervente ao extremo, mergulhar cada dupla com uma espátula apropriada, rapidamente, apenas até as cascas ficarem rosas e crocantes. Secar tudo em papel absorvente.
Formar rabiscos em quatro pratos brancos com oyster sauce, encontrável hoje em dia em bons supermercados e/ou em lojas de produtos asiáticos. Depositar cada dupla de casadinho sobre os pratos “decorados”. Servir apenas com uma grande salada toda verde regada com belo azeite.
Comer com as mãos ou não, é irrelevante, a menos que você esteja com a Rainha da Inglaterra, mas não deixe de, a cada mordida ou garfada, dar uma passadinha ligeira no molho de ostras. A mistura final, os sabores da banana, da castanha, do crocante das cascas (que viram chips) e tudo o mais devem agradar ao paladar mais erudito, como o de vários comensais que estavam lá na FLIP .

Victor Rodrigues

9 de ago. de 2010

ABRACE-ME URGENTEMENTE

— Qual é a tua, pivete? Quem manda nessa porra sou eu! Vai procurar tua turma, filha da puta!
Ioiô leva uma banda do garoto que a faz rolar no chão. Sai resmungando: “Pô! Tá pensando que é o dono da rua? Eu hein!” Não tenta revidar, pois, além de saber que ele está certo, que ela invadiu o território inimigo, é apenas uma mulher, uma menina, portanto, um ser em permanente desvantagem. Na verdade, só queria mesmo era passar um bagulho rapidinho para descolar algum, uma grana que lhe permitisse comprar a bendita cola – crack seria um luxo. Quem sabe à noitinha? Coca só em dia de festa – algo que viesse aplacar aquela fome e o temor, ambos intensos. Sem opção, vai andando pela praia em direção ao Posto Seis, buscando que a sorte lhe sorria uma vez pelo menos naquele dia.
Ainda no começo, pára e dá uns tapas numa cachaça com uma galera amiga – coisa que sempre funciona. Enquanto caminha, pensa. Seu nome é Yolanda. Yolanda da Cruz. Sabe disso porque trouxe de um dos orfanatos a cópia da certidão de nascimento. Também lá, haviam dito que seu apelido era Ioiô. Explicaram –“explicação boba essa”, pensava- que ela vivia sendo jogada de um lado pro outro que nem um ioiô, com que todo mundo brinca, brinca, mas ninguém leva a sério, e acaba sempre esquecido em cima de um móvel. Mas é claro que isso se devia ao fato de se chamar Yolanda e nada tinha a ver com essa outra baboseira. No entanto, parecia verdade mesmo, pois, desde quando sua lembrança alcançava, havia passado por mais de mil famílias sem que nenhuma a quisesse, nem como ajudante de empregada. Sem falar nos orfanatos, vários... Era essa a razão daquela enorme vontade de morrer. De repente. Sentia sempre essa vontade. E o frio na alma. Que vida sem sentido a sua...
Estranho, mas conseguia se lembrar bem de quando era pequena, pequena mesmo. Antes disso tudo. Era uma menina especial, que possuía - era só dela - um anjo da guarda, seu anjo protetor. Ele lhe dizia coisas lindas só soprando ou sussurrando em seu ouvido. Falava do quanto era bonita e parecida com a mãe – linda e boa como ela. Vez por outra, ouvia o farfalhar de suas asas. Volta e meia conversavam, às vezes por horas seguidas. E também podia enxergar sua luz, que tanto a protegia. E ele a lhe segredar coisas. Havia trazido do orfanato, junto com a certidão, uma foto da mãe. Era lindíssima: usava os cabelos na altura do ombro, ondulados e vermelhos. Lembrava uma atriz de cinema que uma vez vira na revista: Rita Hayworth. Era tão bonita quanto Rita Hayworth. Ou mais. Mais. Sabia que seus cabelos eram vermelhos como os dela. Mas –“merda”- com tanta pobreza, tanta imundície, vivia tão cheia de piolhos que eles haviam começado a cair aos chumaços. Aí, rapara a cabeça. Melhor assim. Pareceria um garoto qualquer. Talvez também por isso a visão da mãe não lhe saísse da cabeça. E a inspirava –muito. Assim como seu anjo.
Difícil dizer como tudo aquilo terminara um dia. Foi de repente que se descobriu curiosa. A curiosidade pode ser uma bênção, mas, igualmente, grande maldição. Pode ser aliada, ou pior inimiga. Germina, dando seus frutos: quase sempre nos afasta de quem somos, independentemente de nós. No caso de Ioiô, foi a grande responsável pelo distanciamento da mãe e de seu anjo protetor. Quando essas duas figuras a abandonaram, sentiu-se irremediavelmente só.
Numa manhã, acordou com gosto de ressaca na boca, misto de cola, crack, tiner e cachaça barata. Foi afastando o papelão, ainda tensa com o dia que enfrentaria. Bendito papelão aquele que a protegia dos primeiros raios solares! Foi quando deu por falta do cobertor. Alguém tinha feito um ganho. Foi a gota d’água. “É hoje!”, pensou. “De hoje não passa. É bola ou búlica!”. Era um termo muito antigo que sua mãe lhe ensinara, segundo contava, ligado ao jogo de bola de gude. Era algo assim, Ioiô não se lembrava muito bem, mas adorava repetir: “É bola ou búlica”. Achava aquilo muito chique.
Pela primeira vez, em anos, sentiu a presença da mãe e de seu anjo protetor. Mas agora era diferente. Além de intuí-los mais perto que jamais, eles pareciam chamá-la: “Venha! Junte-se a nós!”. Era tudo o que Ioiô precisava ouvir. Decidiu: “De agora em diante, será tudo ou nada. Hoje será diferente. É bola ou búlica”. Agia como suicida. Sabia sê-lo. Mas, uma vez na vida, nem que fosse a última, mudaria o jogo – as regras do jogo. Só para variar, viraria tudo do avesso. Não sabia o porquê, mas agora nada mais importava. Viera para perder, e o jogo acabara. Isso não deixava de ser um ganho, afinal.
Conscientemente, caso pensado, voltou ao território inimigo e comprou a cocaína mais cara da praça. “Coisa fina, da boa”. Olharam-na com desconfiança quando entregou todo o dinheiro que juntara. Saiu teatralmente, andando empinada. Devia lembrar um galinho de briga, sabia estar ridícula. Passou a mão numa cachaça de encruzilhada, foi em direção a Niemeyer. Lá, com um estilete, abriu a porta da camionete estacionada no declive. Pensou que seria interessante ficar ali escondida, bebendo e cheirando. Deitou no banco –“macio...”- esticava as fileiras no chão, enquanto bebia.
Repentinamente, deu-se conta do tamanho do desespero guardado no peito. Berrava: “Nasci na banda podre do mundo, claro! Nascer no Brasil é pra pagar. Ninguém nasce aqui à toa. É pra purgar, pagar, porra! Deus escolheu isso, aquele filho da puta! Fez de propósito: se esqueceu de mim! Escroto!”. Soltou um grito lancinante. Todos os seus demônios pareciam sair-lhe garganta afora. Cuspia fogo. Vomitava ódio. Cão sem dono, bebê sem mãe, loba em desespero, seu uivo alcançou a lua, toldou estrelas, perdeu-se no néon. Ioiô virou néon, sumiu por entre os anúncios luminosos que piscavam. Poeira de estrelas que ela costumava observar, doidona, deitada de costas na areia. Finalmente amor e perdão infinitos.

2 de ago. de 2010

POR QUE, AMOR?

Para Ana Laura

Brigou comigo?
Eu me desarvoro
Fico sem pai nem mãe
Fico sem chão, sem pique
Quando você vai
Onde encontro paz, carinho e alegria?
Briga não, amor
Brigados estão todos
Não vamos fazer igual
Nós sempre nos amamos tanto...
Nunca brigamos, lembra?
Merecemos o melhor
Nós dois, só nós dois
Mais ninguém

Sei lá, acho que você está com medo
Por isso briga
Será que você não agüenta ser feliz?!
Ontem estava tão bem...
E agora?
Sem mais aquela explodiu feito louco
Sem razão, lobo uivando de ódio para a lua
Mas medo de que, amor?
De se apaixonar?
Você não sacou ainda
Que já aconteceu há muito tempo?!
Medo de perder o pé numa piscina de paixão?!
Mas deve ser tão bom que sou candidata...
E você vai adorar quando mergulhar pra valer!

Nunca fiz isso em toda a minha vida
Mas faço agora.
Eu te imploro.
Se precisar me ajoelho, não tenho vergonha, não
Me atiro a teus pés
Porque sei que você me ama também
Se não acreditasse nisso, nunca o faria
Mas sei do que sente por mim
Que não é pouco...
Então te imploro:
Vamos brincar de namorados?
Trocando beijinhos a céu aberto
Ou de amantes?!
Fazendo amor livres, sob a lua

Aí se nada disso der certo...
Escuta amor
Escuta com cuidado:
Venha até mim
Desarmado, você me abraça
Sem dizer palavra
Só isso me basta.
Aqui dentro está quentinho...
Venha se aquecer

SUNDAY, BLOODY, SUNDAY

Domingo é o dia. Eu sempre me organizo para não ficar sozinha. Mas por razões que me escapam me peguei completamente só, de repente.
Por um motivo ou outro, todos os meus amigos estavam se divertindo ou ocupados e eu, somente eu, sozinha no mundo.
Sou casada, mas não moramos juntos e, é claro, neste domingo meu marido estava viajando. Nem com ele podia falar.
Dizem que existe solidão e solidão. Não pra mim. Não entendo essas nuances. Sei que podemos nos sentir só, mesmo rodeados de gente. Mas, infelizmente, esse não era o meu caso. Eu estava só e sozinha. Não havia um mísero cristão com quem eu pudesse me lamentar, só como um camelo sem deserto...
Minha cabeça começou a acelerar e parecia querer explodir e não parava de ouvir um som de bate-estaca fazendo misérias em meu cérebro... Quando de repente comecei a viajar intensamente, cabeça descolada do corpo, este flutuando. Poderíamos chamar isso de “viagem astral”.
Ouço vozes antigas, eternas. Como um sonho volto à infância... longe, longe, longe “ciranda, cirandinha vamos todos cirandar...” Devem vir de algum lugar do passado. Passado/presente, presente/passado. É tudo igual como uma roda que vai e volta e nunca chega ao fim.
Sinto-me leve, queria esse estado até o final de meus dias. Conheço uma pessoa que teve decretada morte clínica, quando conseguiram reanimá-la, ela ficou puta da vida, pois nunca se sentira tão bem como quando do outro lado. Esse suave torpor me invadira e parecia querer ficar. Lá, dentro de mim, eu sabia que seria impossível. Que a realidade existe e temos que encará-la de frente e blá, blá, blá. Mas não hoje. Hoje tirei férias de mim mesma.