22 de dez. de 2009

Rua da Matriz (Parte 1)

Muito difícil relembrar minha infância. Sinto-me absolutamente bloqueada. Minha memória falha... Sinto a maior parte do tempo, medo. Mas vamos lá, Copacabana: impossível imaginar uma menina mais solitária, mais abandonada, era pelo menos como eu me sentia. Não acredito que tudo isso faça parte somente de minha imaginação. Minha mãe sempre deixou clara sua aversão às crianças. Não queria filhos. Fez isso, segundo ela, para “prender” meu pai, que as adorava. A vida é sempre cheia de mal-entendidos, a maior parte deles, graves. Alguns podem chegar a ser fatais. Poderia ter sido meu caso. Desde cedo estabeleceu-se este estranho triângulo amoroso: eu era apaixonada por esse pai que me adorava e convivia em casa com minha pior inimiga :  mamãe. A vida às vezes arma estranhos roteiros...
Não me lembro de muita coisa dessa época, além de uma enorme sensação de vazio, de solidão, de abandono. Lembro de tardes a fio na janela, assistindo de um oitavo andar a jogos de futebol de areia. Um estranho desenho geométrico.
Lembro também de noites e noites em meu quarto ouvindo barulhos de vozes e bater de panelas que me chegavam da área interna do prédio...

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