3 de dez. de 2009

A OUTRA

Tenho por hábito quando vou ao banheiro a noite colocar meus óculos de perto de forma que quando passo pelo meu lap-top checo se entraram novas mensagens. Desta vez, uma em especial chamou minha atenção, pois era toda em francês.

Meu nome é Maria Pilar e morei na França. Intrigada, pois não tenho mais laços com ninguém lá, sentei-me para ler. Era um erro flagrante. Alguém havia trocado de Marias que haviam morado na França, era óbvio.

Pela mensagem ficava claro que o francês que escrevia para a tal Maria, só a havia visto duas vezes e mesmo assim há 20 anos atrás e continuava encantado e queria voltar a vê-la bla-bla-bla-bla essa conversa que só francês agüenta. Caralho! Quanta coincidência, que maravilha.

A pessoa responsável pelo engano fora uma amiga dele brasileira que havia trocado as Marias e os e-mails. Nada era mais oportuno para mim, que pelo e-mail fiquei sabendo que a outra se chamava Maria Laura e tinha um site. Enfim, todas as coisas conspiravam a meu favor.

Sempre vivi de trambiques, golpes pequenos e grandes. Resolvi ali que iria dar o maior deles para sair dessa vida de merda pra sempre. Eu urrava de tanto rir: era tudo tão fácil que mais parecia brincadeira de criança. Resolvi ali, passar por Maria Laura e mudar minha vida.

Estava completamente dura e para isso precisaria de um capital inicial. Resolvi ir conversar com o meu velho, falar que seria a última vez da minha vida, e coisa e tal.

Respondi ao e-mail como se a outra fora e combinei uma conveniente viagem a França onde seria mais fácil passar pela tal Maria Laura.

Descobrir o site da outra foi o primeiro passo e passo 2 resolvi copiá-la em tudo. No passo três mudei de personalidade, virei a Laura, e isso era moleza. No passo 4 já estava mudando até o tom do cabelo e com a grana do velho tomei um “banho de loja”.

Descobri que a pentelha também tinha um blog. Aliás, ela tinha tudo. O que mais faltava pra idiota ter? Escreva e parece que bem passei a acompanhar o tal blog e aos poucos até os trejeitos dela eu copiava. Eu sou bonita, e sem sacanagem, um “porrilhão” de vezes mais que a tal Laura. Se ele fora apaixonado por ela, iria “comer na minha mão”. Descobri também que a outra era casada, maravilha, nenhum problema a vista.

Estava eufórica com a viagem e sentindo já uma pontinha de paixão pelo francês. Eu era malandra o bastante para saber que isso era a coisa que eu mais devia evitar. E uma vez em Paris evitar também todas as “paradas” que eu costumava freqüentar. Dali por diante eu só seria conhecida como Mariá e forçaria Eric a falar português.

Tudo na França transcorreu da melhor forma possível. Eric, como eu previa, caiu de quatro por mim, mas chegou uma hora que ele desconfiaria se eu não voltasse ao Brasil e iria achar que eu era uma “tremenda trambiqueira”. Coisa que eu até sou na verdade!

Imagem é tudo, gente, para os estrangeiros, então...

Havia acontecido uma coisa com a qual eu não havia contado, Eric havia se apaixonado de tal forma que o que a princípio fora um sonho, havia se transformado num pesadelo. Era uma paixão absoluta, tão terrivelmente completa que ele resolvera casar-se pompa e circunstância comigo. Estava tudo muito bom, tudo muito bem se eu a outra fora. Mas as coisas não eram simples assim. Haviam alguns problemas a considerar: se eu me chamasse Maria Laura e ficasse com metade da grana do francês seria perfeito. O que faltava para isso? Tan, tan, tan. Trocar de identidade e rapidinho.

Chamei o meu “clube da esquina” das “antigas”. Eles pediram uma grana preta pelo serviço. Mas também eu já estava montada mesmo. Disseram que o pior fora o passaporte, mas foda-se, contanto que eles sumissem com a Laura, o resto era detalhe.

De posse dos documentos, foi com dor no coração, (mesmo!) que me despedi do Brasil pra sempre. Eu sabia que se aqui voltasse seria chantageada pra caralho pelos “meus amigos”.

Daqui pra frente vou me chamar Maria Laura e estamos combinados. Casamos e seremos felizes para todo o sempre.

Ah! Antes que eu me esqueça, um francês jamais saberá como é bom ser brasileiro.

4 comentários:

  1. muita sensibilidade..........
    eu te conheco????????/

    ResponderExcluir
  2. Amei seu blog, mandei outro comentário anônimo. Você está escrevendo muito bem, menina!!! Pensou em transformar "A outra" em filme?
    Quanto aos aniversário, Natais, etc, penso como você, não são importantes, depois de uma certa idade são repetitivos, chatos. Deveriam aexistir de três em três anos, assim como o Carnaval.
    Quanto aos pets, não sei viver sem eles, converso com eles, e o pior é que respondo por eles com voz de débil mental.
    Foi muito bom ler o que você anda criando! Vou ficar freguesa. Beijo, Bia Vasconcellos (Joalheira)

    ResponderExcluir
  3. Fantásticooooooooo!!

    ResponderExcluir