4 de out. de 2010

CANTINHO DOS LIVROS

OS TÍTULOS QUE TRAGO EM MIM

Por Vanessa Balula*

Alguém disse que somos resultado do que vivemos – eu diria, ainda, que somos muito um tanto de tudo o que lemos.
Quando pequena, eu acreditava que deveria ser fiel aos autores – e mais! – aos personagens que sentia terem ‘batido’ de forma diferente dentro de mim. Sabe? Protagonistas daquelas histórias que têm eco em nós.
E assim, lia e relia as mesmas obras zil vezes. Mesmo os novos títulos de autores já meus ‘conhecidos’ me pareciam intrusos. Por um tempo eu lhes tinha certa desconfiança. Em que espaço da minha estante entrariam? Os mais antigos mereciam destaque. Não pelas capas, mas pelas noites que adormecemos juntos. Eu e o ratinho que tinha medo do escuro e sua família vinham em capa dura em uma coleção do bom e velho Círculo do Livro. (agora veja!), acabo de me entregar... lembro de toda a história, cada cena, ilustração-por-ilustração e, sem nenhum registro do nome do autor ou de qualquer Gente Grande Estrangeira que tenha assinado para aquele livro existir. Eu podia jurar que se chamava “Quem tem medo do escuro?” – mas de um tempo que parece que a web não foi capaz de resgatar.)
Tá. Então cresci. Passei a saber os nomes dos autores. Ruth Rocha e seu ‘Reizinho Mandão’ e ‘Marcelo, marmelo, martelo’ com umas ilustrações arredondadas do tipo desenho gordinho de criança com olho arregalado em rascunhos de recreio; Álvaro Ottoni com ‘A história de um sorriso’ e ‘Quando o coração recebe visita’... E então veio Tistu, o menino do dedo verde de Maurice Druon. Foi nesse momento que comecei a me sentir uma leitora pronta. “Eu lia autores estrangeiros, afinal. E sabia quem era quem.” No alto dos meus 10 anos.
Encontrei Lygia Bojunga e ela me tomou com sua ‘Bolsa Amarela’, me fez bem-vinda à ‘Casa da Madrinha’ e me deixou ficar em seu ‘Sofá estampado’. Até hoje fiquei por lá e a Bolsa, bom, a Bolsa, a Raquel, o Galo, o Alfinete de Fralda, o Bolso Bebê, a Guarda-Chuva, a Linha Forte... seguem comigo em páginas, capa antiga e reedição, na estante e na cabeceira.
Cresci mais e vieram todos os grandes – Vinícius, o poetinha, camarada como ele só (!), me lembrando que já nos conhecíamos da Arca de Noé; Jorge Amado, que me apresentou sua doce e anarquista senhora dona do baile, Zélia Gattai; Fernando Pessoa, que me fez começar a entender que o mundo só gira graças ao bom e velho divã – o que seria de nós, cobertos de heterônimos e versões, se não fossem os terapeutas de ontem e hoje? E, todos, em muito boa companhia (!) – com Cecília, João Ubaldo, Marina Colassanti, Raquel de Queiroz, Drummond.
O tempo passou depressa demais – muito mais rápido do que fui capaz de dar conta de tudo o que gostaria de ler. Junto com a pressa uma sede de saber e conhecer e ouvir e saber mais e querer contar e ouvir contar – é da idade, ouvi dizer. Então nos últimos 10, 15 anos tive – quando não esperava (!) – alguns dos encontros mais mobilizadores em mim. Encontros definitivos com Adriana Falcão – tenho uma inveja fúcsia de cada linha! -, Inês Pedrosa, Câmara Cascudo, Afonso Romano, Cortázar, Astrid Lidgren, Jorge Luis Borges, Carmen Posadas, Antônio Cícero... e, ah... Manuel de Barros! Isso só pra citar quem gritou aqui do teclado – deixando tantos outros em silêncio na estante.
E assim a vida – ao menos a minha (!) passa cheia de páginas e capas e histórias e frases e cenas e nomes e rostos e traços que me ocupam, me falam, por vezes me calam, me tomam e fazem bagunça dentro de mim.

*Vanessa Balula, eu e minhas versões: agente literária, jornalista, roteirista, autora, publicitária. Paixão absoluta por papéis, histórias e ilustrações. Pra colorir a vida: Agência da Palavra e giz de cera.

4 comentários:

  1. Com muito orgulho sou testemunha ocular desta história, das horas de leitura entre as brincadeiras de cada uma das fases de sua vida, dos tantos livros que guardei após o seu sono, dos tantos textos elogiados por todos que tiveram acesso e sempre por nós colecionados. Sim, neste texto você descreve muito bem sua paixão pela literatura. Se me permite, Vanessa, obrigado por te-lo escrito no dia do meu aniversário. É um belo presente! YBF.

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  2. Balula, queríamos que você soubesse quanto estamos orgulhosas de tê-la como nossa colaboradora! Fique firme e tente realmente fazê-lo toda semana... é o que torcemos e que seus admiradores com certeza querem. Milhões de beijos, Rosario e Ana Laura

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  3. E eu nem tive "tempo" de agradecer à dupla! Ana, muito obrigada por sempre nos ajudar ao lado da Rosário.
    Rosário, querida, muito obrigada pelo convite.
    O texto seguinte, ficou no vão. Todo carinho

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  4. Oi Rosário, lembro bem desse livro Quem tem medo do escuro da editora Circulo do Livro, marcou muito minha infância. Gostaria muito de poder adquirir outro livro, mais sem saber o autor fica difícil, muito bom recordarmos nossa infância.

    Abs. Gleicy

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