Bom, já que eu tenho muitos amigos que escrevem muito bem, e gostaria de dividir com vocês tudo de melhor que leio, resolvi dedicar uma parte deste blog a esses escritos... é o CANTO DOS AMIGOS!
Acalanto do dia 2
Inexoravelmente cumpriu-se o ciclo da vida. Nascemos, crescemos, morremos.
Não conseguimos com facilidade assimilar a terceira parte.
Viemos do pó e a ele retornamos.
Estranhamente ficamos tristes.
Um sagüi cruzando a auto-estrada Lagoa Barra, saído do campus da PUC às 12 horas de uma quinta de sol.
Amêndoas, mangas, bananas, o que mais tivesse serviria de alimento para este sagüi saltitante que vivia placidamente nos jardins da Gávea.
Com a intranqüilidade que só os sagüis têm, ele viu passar alunos, enchentes, alegrias, aniversários, tristezas, namoros, amizades, sempre meditando de longe que tudo na vida é passageiro, inclusive a vida.
Por distração, miopia, enfado, adrenalina ou tristeza resolveu um dia testar os limites da velocidade e cruzar rapidamente a auto-estrada.
A marca da imprudência deste sagüi cruzou minha manhã.
Talvez sumisse de tempos em tempos, sabiamente se isolando sem solidão.
Reaparecia avidamente procurando comida, contato e carinho.
Não tinha estudo, mas era perspicaz e desenvolveu habilidades insuspeitas, de subir escadas, chegar até as janelas com frutas e viajar até as cozinhas.
Sua última aventura foi conhecer os desafios da grande travessia.
Não sei se conseguiu superá-los, mas sei que hoje onde está, no paraíso dos sagüis, grandes e suculentos frutos e infindáveis flores azuis se perpetuam num banquete maravilhoso.
Espero que alguém o coloque embaixo de uma árvore querida e certamente ele caminhará num outro jardim paralelo acompanhado por meu pensamento.
João Siqueira