RUA DA MATRIZ – o pouco que consigo me lembrar
Para Anna Maria Assis
Me vejo em sonho. Brumas de antigamente. Estou sentadinha, ainda bem criança na escada de pedra que levava para o jardim de inverno, na casa do papai. Tudo o que restou dessa casa onde passei minha infância e adolescência foram escombros. Ninguém consegue construir no local. As energias que pairam por este local mágico são fortíssimas. As pessoas ainda não compreenderam isso.
A minha presença, assim como a da minha família, ainda deve estar muito intensa ali. Afinal, bela parte de minha vida passei ou pendurada na mangueira ou namorando no portão. Aquela mangueira, devem ter arrancado e feito dela pedacinhos, pois se esquecem que a natureza tem consciência, a gente pensa que não, mas tem vida própria e ela se vinga.
Tudo em nome do vil metal. E é a tal história, todo mundo é culpado, mas ninguém assume sua parcela. Estamos todos aí empurrando tudo com a barriga. Volto aos meus sonhos de antigamente e me vejo ainda criança brincando na rua (na época eram raros os carros, pelo menos não passavam por ali) brincadeiras de outrora. Duvido que alguma criança hoje conheça qualquer uma delas.
As crianças hoje já nascem informatizadas. Morro de pena. Não tiveram infância. Nunca brincaram de baleado, chicote queimado, amarelinha (atingir o céu...) e por aí afora. Meu Deus, eu era feliz e não sabia.
Da mangueira ao portão foi um pulo. Explicando melhor: de garota levada a uma quase adolescente que namorava no portão, não me lembro ter se passado muito tempo. Creio até que eu fazia as duas coisas simultaneamente. Ou minhas recordações assim o querem... Meu Deus, que época boa!
Época de família com filhos numerosos, que cresciam soltos brincando na rua. Tempo em que os garotos de “família” se irmanavam com aqueles dos morros. Quando a favela era pacífica e podia-se mesmo brincar por ali!
A bruma desce novamente e tolda minha lembrança... Estou novamente aqui e agora, na era cibernética em 2010, nesta cidade violenta. Seria bom viver só de lembranças... Queria tanto continuar sonhando... Acho que é por isso que escrevo...
ROSÁRIO: MAIS QUE HONRADA PELO PRESENTE DA DEDICATÓRIA. vOCÊ SABE QUE EU GOSTO, E MUITO, DE TODOS OS SEUS TEXTOS. ESTE EM ESPECIAL ME REMETE A UMA TEMPO BOM EM QUE NÓS (VOCÊ,ÂNGELA E EU) TRABALHÁVAMOS NO SEU ROTEIRO SOBRE A RUA DA MATRIZ. lEMBRA? OBRIGADA E BEIJOS DA ANNA MARIA
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