Acalanto do dia 2
Inexoravelmente cumpriu-se o ciclo da vida. Nascemos, crescemos, morremos.
Não conseguimos com facilidade assimilar a terceira parte.
Viemos do pó e a ele retornamos.
Estranhamente ficamos tristes.
Um sagüi cruzando a auto-estrada Lagoa Barra, saído do campus da PUC às 12 horas de uma quinta de sol.
Amêndoas, mangas, bananas, o que mais tivesse serviria de alimento para este sagüi saltitante que vivia placidamente nos jardins da Gávea.
Com a intranqüilidade que só os sagüis têm, ele viu passar alunos, enchentes, alegrias, aniversários, tristezas, namoros, amizades, sempre meditando de longe que tudo na vida é passageiro, inclusive a vida.
Por distração, miopia, enfado, adrenalina ou tristeza resolveu um dia testar os limites da velocidade e cruzar rapidamente a auto-estrada.
A marca da imprudência deste sagüi cruzou minha manhã.
Talvez sumisse de tempos em tempos, sabiamente se isolando sem solidão.
Reaparecia avidamente procurando comida, contato e carinho.
Não tinha estudo, mas era perspicaz e desenvolveu habilidades insuspeitas, de subir escadas, chegar até as janelas com frutas e viajar até as cozinhas.
Sua última aventura foi conhecer os desafios da grande travessia.
Não sei se conseguiu superá-los, mas sei que hoje onde está, no paraíso dos sagüis, grandes e suculentos frutos e infindáveis flores azuis se perpetuam num banquete maravilhoso.
Espero que alguém o coloque embaixo de uma árvore querida e certamente ele caminhará num outro jardim paralelo acompanhado por meu pensamento.
João Siqueira
Muito lindo e sensivel......sua mente e um tesouro!!!
ResponderExcluirLindissimo !ROSARIO
ResponderExcluirUm Presente
ResponderExcluir13 de abril 2010
Rosário
Busquei no Aurélio todas as possibilidades do verbete “presente”.
Filosoficamente achei restrito, pois o sentido que vejo é mais amplo.
A arte de presentear é única, e pressupõe um conhecimento amplo do outro.
O outro como você mesmo. Então será que o ato de presentear é egoísta?
Analisemos portanto.
Quando pensamos em dar um presente que agrade a alguém que queremos, aprofundamos o nosso conhecimento do outro, deste outro que somos nós mesmos. Juntamos fragmentos de conversas, observação de fatos e acontecimentos e deste quebra-cabeças, formamos a idéia do “presente”, ou seja, do atual. A forma de estarmos presentes, mesmo ausentes.
O presente não necessariamente precisa ser um objeto, caso seja isto, simplifica as coisas, mas paradoxalmente é ainda mais complicado.
Como materializar o sentimento através de um objeto?
Será a sensibilidade do outro, no tempo presente, igual a sua com relação à interpretação do “presente”.
Pode ser um pensamento de um dia feliz, um aroma de chuva caindo, o sol batendo na grama, aquela comida pensada, uma musica cantarolada, um verso, mas sempre com a intenção no outro. Proporcionar alegria, mesmo que lágrimas surjam. E a idéia se perpetua, desprezando novamente o conceito do tempo.
A fotografia do que desejamos agora, estabelecida no passado, projetada no futuro. Para mim é maravilhoso pensar em presentear alguém que eu gosto.
Gratificado com a possibilidade de gerar um sorriso com o meu pensamento.
E desta forma concluo que não é um sentimento egoísta.
Já dei e recebi inúmeros presentes que adorei.
Como estabelecer a gradação de valores? Impossível.
A seu tempo foram únicos, alguns tangíveis permanecem, outros intangíveis perduram ainda mais. Já dei e recebi flores, livros, discos, bebidos, roupas,objetos novos e antigos, mas alguns especiais nesta vida louca, louca vida permanecerão. Aquele momento mágico que você liga ou escreve e diz como a presença ou a ausência importa e o “nosso presente” vê este gesto como o maior “presente”.
O porque deste texto maluco?
Nada, nada mesmo, só o fato que quero agradecer o presente que você me deu,alem da generosidade,criando o Canto dos Amigos no seu blog e colocando uma crônica deste seu n amigo.
Obrigado.
Beijos do João...